quinta-feira, 22 de abril de 2010

A modernidade tardia no Brasil (Lênio Streck)

Abaixo um excerto  do livro de Lênio Streck que faz referência a era FHC, importante os dados e o retrato do Brasil desenhado pelo Professor Lênio, o desafio é superarmos a miséria que impregna, principalmente as elites econômicas: o preconceito com os pobres. Precisamos de modernidade.
A modernidade tardia no Brasil (Lenio Streck)
"As promessas da modernidade só são aproveitadas por um certo tipo de brasileiros. Para os demais, o atraso! O apartheid social! Pesquisa recente mostra que os excluídos são 59% da população do país. Nessa categoria “excluídos” estão as pessoas que estão à margem de qualquer meio de ascensão social. Na escola, a esmagadora maioria dessas pessoas (86%) não foi além da 8ª série do 1º grau. De todos os segmentos sociais, são os que mais sofrem com o desemprego e a precarização do trabalho: 19% vivem de “bico” e 10% são assalariados sem registro algum. Como contraponto, o levantamento mostra que a elite se resume 8% dos brasileiros. Essa elite concentra mais brancos (85%) do que qualquer outro segmento da sociedade. É, em conseqüência, o segmento onde há menos negros e pardos(pesquisa Datafolha publicada na Folha de São Paulo de 12 de abril de 1997, 1-12 Brasil).
Não há, pois, como não dar razão a Leonardo Boff, quando afirma que (essas) nossas elites construíram um tipo de sociedade “organizada na espoliação violenta da plusvalia do trabalho e na exclusão de grande parte da população”. Daí a existência no Brasil de duas espécies de pessoas: o sobreintegrado ou sobrecidadão, que dispõe do sistema, mas a ele não se subordina, e o subintegrado ou subcidadão, que depende do sistema, mas a ele não tem acesso.
Não causa espécie, assim, em nossa “pós-modernidade” midiática, que, a exemplo de tantas pessoas, a dublê de atriz e modelo Carolina Ferraz justifique o apartheid nos elevadores de forma bastante solene: “As coisas estão tão misturadas, confusas, na sociedade moderna. Algumas coisas, da tradição, devem ser preservadas. É importante haver hierarquia”. Já a promoter paulista Daniela Diniz, assídua freqüentadora das colunas sociais, “não nos deixa esquecer” que “...cada um deve ter o seu espaço. Não é uma questão de discriminação, mas de respeito”. Ou seja, para elas – e para quantos mais (!?) – a patuléia deve (continuar a) “saber-o-seu-lugar”...

(texto extraído do Livro “Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. Editora: Livraria Do Advogado, PP.29 e 30)

15 comentários:

Barbara disse...

Abomino a posição dessas mulheres.
Trabalho com "insistência social" e percebo que aprendo mais do que ensino mas isso nem é excessão, assim é com quem lida com as pessoas que - tenho consciência - não estão separadas de nós em nada a não ser por contextos estes da injustiça extrema de que escreves.
Triste é constatar que presidentes de associações de bairro só querem ser vereadores, não orientam seus vizinhos em nada nas questões dos direitos e dos deveres, ou ver que se uma família recebeu uma casinha da prefeitura, faz um "puxadinho" e aluga prá uma família mais pobre, enfim, o brasileiro não gosta de brasileiro e o que o mais pobre faz é simplesmente imitar padrões que assiste e que chegam até ele como normais.
Classe média é podre e vazia sem saber que o preço da omissão também é pago por ela.
Mas a capacidade de sair do umbigo é para poucos.
Obrigada - aprendi muito aqui hoje.

Marcela disse...

É fácil andar nas brasas quando se tem um sapato chique e forte, pimenta nos olhos não doi, pois os mesmos estão coberto com seus "raibans". É fácil para quem tem o quem dizer ao que não tem, que ele não pode fazer parte da vida de quem tem e ainda tem a cara de pau de dizer que "batalhou" muito para estar onde está. O país tem isso e sempre terá, assim como o mundo inteiro, memória fraca, pois muitas das pessoas que estão lá no alto da pirâmide social, ja fora filho, ou fazia parte dessa base fudida que sobrevive como pode.

Anônimo disse...

Muito bem escrita sua cronica!Triste ver essa realidade num país que tem tudo pra dar certo!O que mais me dói é ver criança fora da escola,adultos que nem sabem assinar o nome e tudo poderia ser tão bem resolvido com um pouco de boa vontade política!Seria bom viver num mundo de oportunidades iguais!Adorei sua dica de leitura!Abraços,

Citadino Kane disse...

Barbara,
Existem pessoas que se acham acima dos mortais, um poço de preconceitos... É a pura verdade, os pobres imitam os seus algozes, lamentável!
Volte sempre!
Abraços

Citadino Kane disse...

Marcela,
De barriga cheia é difícil entender o que é fome...
Os que vieram de baixo, com raras exceções, querem esquecer esse detalhe.
abraços

Citadino Kane disse...

Anne,
Resumiste toda essa pobreza: - Oportunidade!
É uma questão de oportunidades. O ponto de partida igual para todos, e o resto seria mérito.
abraços

Mulher na Polícia disse...

O que as moças aí falaram reflete apenas o que ouvimos todos os dias "cada um com seu cada qual", "o trabalho dignifica o homem", "o Brasil é o país do futuro", "temos que deixar o bolo crescer primeiro para depois reparti-lo"... Ideologia do conformismo, não é isso, professor?

Um beijo!
Ótima temática.

Curioso e Inquieta disse...

Hola!

Que lindo seria si todos tuvieran las mismas oportunidades en la vida...

Me encanta leerte...

Un beso.

Citadino Kane disse...

Mulher na Polícia,
Ideologia do conformismo... huumm... E os anos passando e a mudança defícil, o conservadorismo enraizando preconceitos.
beijos

Citadino Kane disse...

Curi-quieta,
Defendo oportunidades iguais no ponto de partida, depois vem o mérito...
besos

Vanuza Pantaleão disse...

A questão social é algo muito sério nas nações subdesenvolvidas. Muito legal teu post, amigo! Um abraço! Guilherme

Citadino Kane disse...

Guilherme,
A nossa questão continua sendo social... São muitos anos de abandono.
abraços

Anônimo disse...

Muito bom post.

Citadino Kane disse...

Anônimo,
Obrigado!

Anônimo disse...

Gran post. No se puede esperar a leer los siguientes:)