terça-feira, 13 de abril de 2010

O discurso de Márcio Moreira Alves e o AI-5.

Nilton Atayde encaminha o discurso que levou ao fechamento do Congresso Nacional em 1968, através do famigerado AI - 5. O discurso histórico que provocou a fúria dos militares, foi proferido por Márcio Moreira Alves,  na Câmara dos Deputados, em 02/09/1968, e se transformou no maior símbolo contra a ditadura militar. Nilton coloca entre parenteses que (Muito depois, quando já jornalista de O Globo, explicou que, à época, após verdadeiros massacres e violência contra estudantes,viu-se obrigado a posicionar-se, sugerindo boicote às comemorações da Independência; que teve a idéia do discurso depois de assistir à peça cômica “Lisístrata”, de Aristófanes, o maior comediógrafo grego, um veemente, mas inocente apelo à paz.)
Fez um ano que o jornalista e ex-deputado federal Márcio Moreira Alves (MDB) morreu (03/04/2009), aos 72 anos no Rio de Janeiro. Ele ficou internado desde outubro de 2008 no Hospital Samaritano após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral). Márcio Moreira Alves aderiu ao MDB e foi eleito deputado federal pelo antigo Estado da Guanabara. Inicialmente apoiou o movimento militar de 1964, porém, quando foi proclamado AI-1, ele tornou-se opositor do regime.

"Senhor presidente, senhores deputados,
Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.
É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.
As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.
Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.
Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."

4 comentários:

Marcela disse...

Olhe, acho que a ideia do boiote foi em dosoes homeppáticas, hoje em dia, é raro desfiles pelas cidades do interior paulista, e pelo que me lembro, paranaense tb... só comemoram o aniversário da cidade, o resto, deixaram de alimentar a mentira disfarçada de hipócritas verde e amarelo... é claro que brasileiro comemora a copa, o resto é tudo imposição e balela ... eita... mesmo a seleção esta nos decepcionando ultimamente... bom, veremos...

Barbara disse...

É necessário mais do que nunca, que os brasileiros saibam distinguir.
E distinguindo, estarão os brasileiros onde hoje o Brasil está.
Questão de coerência.
Não de simpatias ou de utopias de um país perfeito num mundo imperfeito.
Mas coerência.
Como a que li aqui.

Citadino Kane disse...

Marcela,
Eu tô contigo. Só a seleção para a gente expressar a nossa felicidade.
A ideia do boicote na cama dos militares era sensacional... Mas, eles endureceram e enfiaram no povo.
Beijos

Citadino Kane disse...

Barbara,
A busca de vivermos sem autoritarismo fez parte de nossa história recente... Não podemos esquecer.
Sempre rezo pedindo que nunca mais os militares saiam dos quartéis, a sociedade civil organizada pode ser a interlocutora das crises...
abraços